sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Avião no quintal


Quem, vindo de Sintra, se desloca à Ericeira, num fim de semana qualquer, a fim de esticar um pouco as pernas, arejar as ideias, encher os olhos de mar azul e os pulmões de ar puro, ao passar pela Carvoeira (a poucos minutos da praia da Foz do Lizandro), dá de caras com este "Fiat" da Força Aérea Portuguesa estacionado neste quintal, à beira da estrada.
Ao que parece o dono da máquina é um entusiasta da força aérea. Imagine-se se tivesse trabalhado na marinha mercante...
João Bonifácio

Pinheiro contorcionista

Como qualquer ser vivo, este pinheiro achou que o lugar onde nasceu não era o melhor para passar os seus dias e vai daí decidiu mudar de lugar.
Como não podia simplesmente arregaçar as raizes e deslocar-se... torceu-se, retorceu-se até que achou o ponto ideal para a sua verticalidade e só depois deixou-se subir na vida.
Este comportamento acontece exactamente com o ser humano, só que enquanto as árvores procuram o melhor ponto na natureza onde o fluxo das linhas vibratórias lhes é mais favorável, o homem fá-lo por uma questão de sobrevivência, completamente alheado das forças da natureza.
Se montar tenda no parque de campismo da Ribeira d'Ilhas, na Ericeira, procure o pinheiro da foto, sente-se junto dele e reflicta um pouco. Respeite-o porque é um ser vivo com muita personalidade.
Tal como você.
João Bonifácio

Fonte da Margarida


À entrada da Ericeira, esquecida entre arbustos e canaviais, acham-se os restos do que foi uma das mais famosas e concorridas fontes desta vila.
De água cristalina e sabor sem igual, foi nos anos 30 do século XX explorada por um concessionário que mandou construir um edifício a que chamou de fábrica, mais parecido com um pequeno castelo. Edifício esse que ocupou toda a área de um antigo tanque, outrora usado pelas gentes do campo.
Ora diziam esses mesmos antigos que já no tempo dos seus avós essa fonte era usada, desconhecendo de que época era a sua construção. Diziam ainda que na parede então existente, que ficaria encostada à vertente e que serviria para suster as terras, chegaram a ver gravadas na pedra, imagens de mulheres vestidas de finos véus, enchendo bilhas na fonte. Por baixo, inscritos numa lage rectangular, podiam ver-se caracteres desconhecidos. Talvez esta fonte seja até de origem pré-romana.
A ser assim terá mais de dois mil anos certamente. Esses vestígios primitivos, se não foram destruídos pela intervenção do século XX, ainda lá devem estar incorporados na construção. Podemos até ver ainda no seu interior uma coluna de pedra, usada para apoio das bilhas, já bastante desgastada, o que parece conferir-lhe garantida antiguidade. Pena que não haja registo das características e do estado de conservação da fonte primitiva.
Ainda se podem ver cravadas na vertente, umas escadas de pedra (foto) que parecem ser muito velhas e uma entrada de um túnel que se encontra obstruído. Para além disso, nada mais.
E para ali está abandonada uma relíquia do passado, sofrendo actualmente a pressão urbanística que se desenvolve já muito perto. Um destes dias ao passar no local, poderá ouvir-se dizer: ali, debaixo daquele edifício moderno, jaz uma fonte milenar, que ninguém teve a coragem de recuperar, esquecida de todos.
João Bonifácio

Fonte do Cabo



Quem entra na vila da Ericeira pelo lado Sul, invariavelmente passa junto à Fonte do Cabo.
Fonte centenária (tem uma inscrição em caracteres góticos e uma data: 1457), é um dos exlibris desta localidade.
Para muitos de nós, foi um marco na nossa infância. Testemunha muda das nossas brincadeiras protagonizadas nos terrenos próximos a que chamávamos "a Horta", via beber nas suas bicas de água fresca, todo o género de aventureiros; piratas, cawboys, índios, cavaleiros medievais, caçadores de tesouros, samurais, todo o tipo de personagens que encarnávamos enquanto as nossas mães lavavam a roupa no tanque contíguo. Nos dias de mais calor, via-se transformada em piscina onde nos banhávamos. Magotes de fedelhos de palmo e meio, atirávamos água uns aos outros em brincadeiras frenéticas, saindo dali com os pequenos corpos refrescados e as almas lavadas.
Tempos que recordo com muito carinho e alguma nostalgia.
O topónimo desta Fonte do Cabo vem do facto de na antiguidade se encontrar isolada na margem sul do Rio dos Fundos, rio que trazia nessa época um caudal considerável e que caía em cascata no mar onde está hoje a rampa de acesso à Praia do Sul, mais propriamente, no desaparecido portinho de revéz (onde se encontram hoje as piscinas do Hotel).
Margem que, por ter terrenos mais altos e falésia com furnas na zona entre a fonte e a praia, se parecia com um cabo da costa oceânica. Isto para quem a olhasse do lado norte. Significava também o extremo da localidade.
Consta que a antiga fonte estava voltada para poente acompanhando a velha estrada que conduzia à Lapa da Serra.
Dizem também os antigos que para ser um verdadeiro jagoz tinha-se de beber primeiro, água da Fonte do Cabo.
Tudo isso desapareceu. Ficou a velha Fonte e pouco mais.
Ficou efectivamente, um pouco mais. Refiro-me à mina de água que conduz à sua nascente, escondida do olhar de todos, enterrada nas profundezas da encosta, a cerca de 100 metros de distância, para leste. Ainda há pouco tempo se podia ver um velho morador (já não se encontra entre nós) sentado numa cadeira junto do portão de ferro da entrada, do lado direito da fonte, que "cobrava umas coroas" a quem quisesse fazer uma visita à velha mina, percorrendo o 'caminho iniciático' até à nascente. Como que uma viajem no tempo que conduz aos primórdios da história deste lugar mágico.

João Bonifácio

O pontão, uma vez mais...


Mais uma vez se vai recuperar o pontão de protecção à entrada de embarcações da praia dos pescadores da Ericeira, mais conhecido por porto da Ribeira.
E digo mais uma vez porque, de todas as vezes que o reconstruiram, cometeram o mesmo erro ao ignorarem a força do mar. E o mesmo mar, por altura das tempestades de Inverno, com uma facilidade impressionante, arrasa o pontão, deixando-o na situação que hoje se pode ver na foto.
Há quem diga que o pontão é alvo de uma maldição porque se usou, inicialmente, pedras do santuário megalítico da Barreira, Odrinhas. Não sei se assim é. No entanto já se registaram vários acidentes estranhos e algumas mortes, que ficaram na triste memória desta obra.
Não sei se as obras de recuperação, já iniciadas, serão feitas nos mesmos moldes que as anteriores. Parece que desta vez, não.
Se não se mudar de estratégia, podem ter a certeza que, uma vez mais, será deitar dinheiro ao lixo.
Ou seja, ao mar.
João Bonifácio

História no lixo


Coincidência ou destino. Chamem-lhe o que quiserem.
Há já algum tempo que me dedico a reconstituir a árvore genealógica da minha família. Do meu lado paterno os vestígios remontam ao início do século XVII, porém do lado materno, no que respeita ao ramo familiar do meu avô, estão limitados aos finais do século XIX com menção apenas aos nomes dos meus bisavós. E é precisamente sobre o meu bisavô que lhes quero contar esta extraordinária história de coincidências.
Recentemente, ao passar junto de um contentor do lixo, a minha mãe reparou que tinham sido ali despejadas grandes quantidades de documentos antigos. Olhou melhor e entre eles viu algo que lhe pareceu familiar: velhas cédulas marítimas. Somos descendentes de velhos lobos do mar e estas cadernetas marítimas faziam parte do seu dia a dia. Eram os seus bilhetes de identidade; o documento mais importante na casa de um pescador. E ali estavam, amontoados, esquecidos, abandonados. Um pedaço da história da Ericeira, atirado para o lixo.
Não resistindo à curiosidade, a minha velhota retirou umas quantas cadernetas e ao abrir uma delas, ficou estupefacta! Era a cédula marítima do seu avô. O meu bisavô, Domingos Bonifácio. A alegria de recuperar um documento tão importante de um elemento querido da família, abafou a justificada revolta de ter sido encontrado em situação tão ultrajante.
Quantas situações destas se registaram e registam ainda hoje? Quanta da nossa memória foi parar ao lixo, deitada fora por aqueles que dizem ser os protectores dessa mesma memória?
Aqui fica uma respeitosa homenagem a todos os velhos marinheiros.
Os verdadeiros heróis da nossa História.
Antigos jagozes, não vos esqueceremos!
João Bonifácio

A abadia

Lembro-me de que quando era pequeno (já lá vão muitos anos) ia passar o 'dia da espiga' ao vale da Abadia, a pouca distância da Ericeira. Ritual pagão que consiste em ir para o campo no mês de Maio, almoçar em convívio com a família e amigos e apanhar uma quantidade de espigas de trigo, ramos de oliveira e flores (malmequeres, papoilas, etc) que se guarda depois durante todo o ano.
Eis a simbologia de cada planta: Espiga – pão, Malmequer – ouro e prata, Papoila – amor e vida, Oliveira – azeite e paz, Videira – vinho e alegria e Alecrim – saúde e força.
Uma descrição interessante desta tradição, é a seguinte:

"O fenómeno de revitalização vegetativa, em que a natureza após a longa letargia invernal acorda, desabrochando numa sinfonia de vida, constituiu sempre para as populações arcaicas, um momento mágico e determinante da visão cósmica da existência. Momento aguardado com a ansiedade das perspectivas de novas colheitas mas, igualmente despoletador de dúvidas acerca da sua efectiva realização, este é o tempo em que chega a Primavera. Tempo sagrado, como todos os tempos de transição, nele se efectuavam, em épocas passadas, diversos cerimoniais cujas funções exprimiam a comemoração festiva do eclodir primaveril e, algumas vezes até, rituais de expulsão simbólica do Inverno que terminava. Neste sentido, realizaram-se durante séculos, por todo o mundo mediterrâneo, grandiosos festivais florais em que jovens nubentes se espalhavam pelos campos e, em alegre convívio cantavam e dançavam, e se enfeitavam com verduras e flores, num ritual ancestral de que o nosso “dia da espiga” constitui herdeiro directo, embora minorado. Poder-se-á dizer, então, que fazendo parte deste ciclo festivo da Primavera, a Quinta Feira da Ascensão, ou “da espiga”, corresponde à cristianização de um complexo de festividades pagãs ligadas à celebração e consagração da natureza. De facto para as sociedades primitivas, a regeneração vegetal, de que a agricultura é função, está dependente, em grande parte, das boas ou más vontades divinas e, em última instância, da maior ou menor fertilidade da terra-mãe. Não é portanto de admirar que este tempo vital, expresso no renascer das plantas, no desabrochar das árvores e na proliferação das flores e frutos, desencadeasse grandes manifestações de alegria, em que jovens se dirigiam para os campos, para aí, em comunhão com a natureza, festejarem e, naturalmente, adquirirem também eles as energias fecundantes que nesta altura fluíam em profusão.Mas o “dia da espiga” era também o “dia da hora”. Herdeiro de simbolismos primevos, este era um tempo particularmente sagrado. Um tempo por muitos considerado “o dia mais santo do ano”, em que se não devia trabalhar e em que “nada bulia”, em que as transgressões referentes ao trabalho se revelam estranhamente ineficazes, quando não se manifesta até outro tipo de sanção mais radical. Avultava, aí, uma hora em que as coisas possuíam especiais valências e singulares transcendências... o meio-dia! Essa é a hora em que os “as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e até as folhas se cruzam” configurando assim, devotadamente, o sinal da cruz”! De sacralismo tão intenso que, como se cré, na zona do Vale do Tejo, nem os “passarinhos vão ao ninho”! Ao meio-dia se deviam, então, colher as ervas que iam ser utilizadas na farmacopeia popular durante todo o ano. Ao meio-dia se deviam preferencialmente colher os diversos raminhos que no seu conjunto constituíam a “espiga”, temporalidade que por razões funcionais foi, em muitas zonas, caindo em desuso.É um tempo prodigioso, eivado de proibições e obrigações. Nalgumas aldeias acreditava-se que não se podia, nesse dia, cozer pão. Noutras, pelo contrário, o pão cozido era sagrado, mantendo-se incorrupto até ao ano seguinte. Em Alenquer, por exemplo, o leite ordenhado nesse dia não se vendia, dava-se, já que a realização de negócios, mesmo os mais simples, constituía mau presságio. Em casa “a espiga” era, e é, guardada atrás da porta ou junto da imagem de particular devoção. A mera existência numa habitação desse simples raminho, constitui poderoso e multifacetado amuleto. Para dar saúde, alegria e abundância e, especialmente, para que nessa casa nunca faltem os indispensáveis azeite e pão!Aliás, o seu sentido propiciatório era, em tempos idos, evidente e diversificado. Quando das trovoadas, um bocado posto a arder à lareira afastava os raios e oferecia protecção eficaz contra a tormenta.A este tempo estavam ainda ligadas as oferendas das “primícias” e as “benções dos campos”, nos nossos dias, por razões funcionais, de contornos institucionais mais ou menos litúrgicos e de temporalidade mais variada. Em muitas zonas do país, costumavam-se soltar, durante a missa, grupos de andorinhas que, paciente e delicadamente, se tinham apanhado nos dias anteriores, adornadas as mesmas com coloridas fitinhas e lacinhos vermelhos.Enfim, sejam ou não vistos, hoje, numa perspectiva canónica, fazendo ou não parte do imaginário popular, estas tradições que comemoram o desabrochar da Primavera são sempre tempos especiais na temporalidade mística das populações rurais mediterrâneas e, na sua coexistência com o sacralismo da terra-mãe, hierofania exemplar da sua relação com a esfera do sagrado.É o milagre da vida, que se renova periódica e inexoravelmente todos os anos. Da terra prenhe eclodem os frutos naturais. Semente divina, condição de sobrevivência, dádiva da fertilidade que as massas urbanas apenas, hoje, apreciam à distância!"
Olho esses dias com uma certa nostalgia. Hoje, no entanto, uma curiosidade inquietante tem-me assaltado na sequência dessas memórias:
- Porquê a população se deslocava de preferência àquele lugar para ali consumar este ritual?
- O que significa aquele topónimo? Vale da Abadia. Existiu ali alguma congregação religiosa?
- Se existiu, quem eram aqueles religiosos? O que faziam ali? Como se denominavam?
- Muito próximo existe outro lugar conhecido ainda hoje por Pinhal dos Frades. Que relação terão estes dois topónimos?
- Serão os vestígios de um pequeno templo os que fotografei recentemente no local? (ver foto)
- Alguém tem dados históricos sobre a Abadia da Ericeira?
João Bonifácio

Foral de 1229

A Ericeira recebe o seu primeiro Foral em 1229 pela mão de D. Frey Fernão Rodrigues Monteiro, 4º Mestre da Ordem de Avis.

"É através desse documento que os ericeirenses passam a ter uma administração interna própria, em que o seu Concelho, é a representação dos moradores perante o poder senhorial. As coimas e os impostos, enunciados nesse documento, são quase na totalidade recebidos pelo senhorio, a Ordem de Avis, representado pelo Alcaide, ou Alcalde. Esta figura do Alcaide, descrita no Foral, só poderia ser um residente da terra, aceite pelo Comendador e pelo Concelho. Dava uma certa garantia aos moradores da Ericeira, fazendo com que houvesse um equilíbrio de forças, para que não houvesse abuso de poder".
Podemos aperceber-nos aqui que, quando a Ericeira recebe Foral em 1229, já é constituída lugar de uma certa importância conforme se pode ver pela descrição seguinte:
"As principais actividades económicas no princípio do século XIII nesta povoação piscatória, eram sem dúvida alguma, a pesca e o comércio, em grande parte relacionado com ela. A pesca era tão importante que o Foral começa por descrever em primeiro lugar, questões relacionadas com essa actividade."

"Que os pescadores paguem a vigésima parte do pescado que matarem no mar, que de doze peixes tirem um para o seu 'conducto' (1), antes de usarem essa vigésima. Se apanharem congro comam-no. De pescado que encontrarem morto não paguem foro. Da baleia entreguem a vigésima parte. De toninhas ou golfinhos, apanhem sem impedimento. Visinhos da Vila, pescadores que forem pescar a outra parte, quando voltarem com o pescado ao porto, paguem dois soldos. Os homens menores de catorze anos, não pagam. De bicheiro, udra ou rede de costa, não paguem foro"(2).

(1) Este "conducto" ainda hoje se mantém em uso na Ericeira; é a chamada "caldeirada" que cada pescador tem direito para o seu sustento.
(2) O que hoje os eiriceirenses chamam de "malhada" (pesca na maré vazia).
"Anais da Vila da Ericeira"
Jaime d'Oliveira Lobo e Silva - 1932

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O topónimo ERICEIRA


Na idade média aparecia escrita como Eyriceira, Ericeyra, Eyricera...
A origem do nome perde-se no entanto no fundo dos tempos.
Diz-se que neste local “terá subsistido uma devoção antiquíssima cujo sincretismo conduz à deusa fenícia Astarta e à grega Artemisa, conhecida em Creta por EILEITHYIA, e por Ericina no monte Erix, na Sicília, representada na companhia de um ouriço-cacheiro”.
Pode ser que numa dessas épocas: visigoda, romana, fenícia, grega, ou mesmo céltica, a região onde se situa a actual Ericeira tivesse sido um santuário dedicado a uma dessas deusas. Ou seria dedicado a uma outra, indígena, muito mais antiga?
Em toda a zona existem variadíssimos vestígios de ocupação humana desde épocas remotas: celtas, romanos, visigodos e mais recentemente, árabes. De povos ainda mais antigos e de que não se fala, esses sim os originais, pode-se ainda verificar vestígios de ocupação. Como se sabe, nem todos os povos antigos construíam em pedra. Os que habitaram esta zona, vivendo em comunhão sagrada com a natureza, construíam em madeira, deixando apenas como vestígios, os entalhes na rocha viva para fixação das traves que serviam de fundação e travamento às suas construções. Esses entalhes na rocha podem ser vistos ainda em vários sítios.
Outro tipo de vestígios típicos destes povos é as chamadas “tulhas”, buracos escavados na rocha, cujo interior em forma de vaso servia para armazenar os bens alimentares, principalmente cereais, tapadas com uma laje circular.
Navegáveis, na antiguidade, até alguns quilómetros dentro da linha de costa e com os respectivos portos fluviais; a norte a ribeira do Safarujo que desagua em S. Lourenço (Santa Susana) e a ribeira dos Cucos que desagua na praia de Ribeira d’Ilhas e a sul o rio Lizandro, navegável até à Senhora do Porto (N.Sra. do Ó), fizeram, certamente, da Ericeira antiga o centro de uma região importante tanto económica como religiosa.
Entre os exemplos de objectos de rituais mitológicos encontrados, figura um cipó truncado ou ara, cavada no interior, tendo exteriormente em alto-relevo, cinzeladas inscrições decorativas, possivelmente da era romana ou visigoda. Faz parte do espólio arqueológico do Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia.
Alguns apontam a origem do nome Ericeira ou Ouriceira (?) nos muitos ouriços do mar existentes na sua costa. No entanto, investigações mais recentes apontam o ouriço caixeiro e não o do mar como inspirador do nome. Com a descoberta de um exemplar do antigo brasão da Vila, existente no mesmo Arquivo-Museu, confirmou-se que o animal ali desenhado é, de facto, um ouriço caixeiro, espécie que evoca a deusa fenícia Astarte, dando razão à tese anteriormente avançada por Manuel Gandra, e segundo a qual a origem do povo da Ericeira remonta aos fenícios. A história da Ericeira remonta, assim, a cerca de 1000 a.C..
Terá nascido, no isolamento edílico e mágico das Furnas, o topónimo Ericeira, devido ao culto da deusa EILEITHYIA ou ERICINA?
João Bonifácio