segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Anjos da guarda (2)

Mastaréu mandado levantar no sítio do Marco da Peça, "Furnas"
(tinha este nome em virtude de haver neste sítio uma pequena peça de artilharia, para defesa do porto)
O documento mais antigo que dá referência a esta actividade de sinaleiros do mar, data de 28 de Agosto de 1855 *. Nele é concedida licença, pela Câmara da Ericeira, a Gerardo Pereira Rodrigues, Regedor desta Vila, para poder arvorar um mastaréu com bandeiras para sinais que servissem as embarcações. O sítio escolhido foi o Marco da Peça (na ponta de Santa Marta), onde ainda hoje se encontram os ferros cravados na rocha.
Mais tarde, finais do século XIX, novo mastro de sinais foi colocado no local do Forte da Guarda Fiscal. Os sinais eram feitos através de bandeiras convencionadas, colocadas na adriça do mastro, correspondentes ao estado do mar. A bandeira branca significava que o porto estava fechado. As embarcações que viessem ainda longe do porto, ao verem esta bandeira, invertiam a rota para Cascais ou Peniche, consoante o vento soprasse do quadrante norte ou sul. As bandeiras vermelha e branca, içadas juntamente na adriça, significava que o porto dava entrada, mas com a ajuda do sinaleiro.
Este mastro foi derrubado no princípio dos anos 60, com o consentimento de alguém que, de marítimo nada tinha. Contrariamente a tempos anteriores, na época do "marujo" Delegado Marítimo**, o referido mastro era mantido sempre em bom estado de funcionamento, por onde passaram em aprendizagem náutica uma geração de pescadores da nossa terra.
* - Por esta época, 1849, o número de embarcações de todos os lotes, incluindo as do comércio de cabotagem existentes na Ericeira, era de 98, empregando 670 homens. As pescas eram feitas ao longo do nosso litoral, estendendo-se muitas vezes às costas de Marrocos, como também nos últimos anos, foram feitas 3 expedições aos bancos de pesca da Terra Nova. As nossas rascas e caíques (embarcações antigas da Ericeira) faziam habitualmente transporte de mercadorias e de pessoas tanto para o Algarve como para o Norte e também para as nossas ilhas.
**- A Ericeira nem sempre foi Delegação Marítima, anteriormente tinha sido Capitania. A 15 de Março de 1844, a Câmara da Ericeira, através do seu Administrador, o grande eiriceirense Francisco José da Silva Ericeira, pediu à Rainha Dona Maria II, a criação da Capitania do Porto, cujos serviços eram administrados pela Alfândega da Ericeira. Francisco José da Silva Ericeira tornou-se o 1º Capitão deste porto, em 1846. Numa pesquisa à extinção da Capitania da Ericeira, foram encontrados no arquivo da Marinha em Lisboa, dois documentos que conduzem muito perto da data da sua extinção. O primeiro documento de 3/10/1882 diz que a Ericeira ainda era Capitania. O segundo de 17/11/1882 refere-se à Ericeira já como Delegação Marítima.

"Os Sinaleiros do Mar na Ericeira", Leandro dos Santos - 1994

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