segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ainda Dom Lopo

A 24.4.1386 D. João I, «veendo e consirando como em esta guerra que auemos tam aficada com aquel que se chama Rey de castella Recebemos mujto serujço do castello d almourel pellas gentes que hi stauam e stam do muj honrrado barom dom frey Lopo diaz de Souza meestre da cauallaria da ordem de christos cujo o dicto castello he», e «querendo nos galardoar ao dicto meestre e a sua ordem», doa-lhe por honra o dito castelo e as terras que vão «des hu chamam a collada do collo d almourel ataa o penedo de aiffa».

Diz Fernão Lopes que D. Lopo foi nomeado mestre da Ordem de Cristo aos 12 anos de idade por sua tia a rainha D. Leonor Telles. Tendo o anterior mestre falecido em 1381, D. Lopo teria assim nascido em 1368/9. Mas seu pai já tinha falecido 1365 (teria 29 anos de idade), antes de 17 de Abril, como se refere na doação desta data da Ericeira a sua irmã D. Branca de Souza. Logo, D. Lopo não pode ter nascido depois de 1365, mesmo se foi um filho póstumo, o que realmente deve ter acontecido, ficando portanto ao cuidado de seu tia a rainha D. Leonor quando a mãe foi assassinada em 1379, teria D. Lopo 14 anos de idade. Portanto, em 1381 tinha no mínimo 16 anos, a não 12 como diz Fernão Lopes, embora nada impeça que a decisão de suceder no mestrado tenha sido tomada quando ele fez 12 anos, ainda o mestre anterior estava vivo.
Como em 1420 já era mestre o infante D. Henrique, D. Lopo faleceu necessariamente antes desta data. O seu túmulo original, em Tomar, armoriado com o escudo esquartelado dito dos Souza de Arronches e com a sua estátua jacente, foi depois mandado trasladar por D. João III para outro local na mesma igreja, sem a estátua e com nova lápide, onde se diz que D. Lopo faleceu a 9.2.1435. Presumindo que o dia e mês foram bem copiados, houve necessariamente erro no ano. Mesmo que fosse da era de César, daria 1397, data impossível, como bem salienta Braamcamp, pois D. Lopo esteve na tomada de Ceuta (1415). A provável data da morte de D. Lopo seria antes 9.2.1419, portanto com cerca de 54 anos de idade. Diz o Livro de Linhagens do Séc. XVI que D. Lopo casou com Maria Ribeiro, a qual «jaz em Pombal e ouve despemcação do Papa para a receber». Sabe-se que Roma não deixou D. Lopo tomar posse como mestre devido à pouca idade, pelo que foi substituído interinamente até à nomeação oficial em 1394, pelo Papa Bonifácio IX, contaria já 29 anos de idade. A questão que se põe é a de saber se D. Lopo obteve ou não a tal autorização especial do Papa para casar. Se assim foi, o que provavelmente só se saberá nos impenetráveis e infindáveis arquivos do Vaticano, é de crer que esse casamento se realizasse com a mulher de quem já tinha filhos. E nada mais natural, portanto, do que essa mulher ser a Leonor Ribeiro (e não Maria) documentada como mãe, sendo solteira, na legitimação de Diogo, Lopo e D. Maria. O que, de qualquer forma, implica que a autorização e o casamento sejam posteriores a 1398, data da referida legitimação. Com esse alegado casamento, não surgiu a necessidade de legitimar os filhos posteriores. Teríamos, assim, que D. Lopo obteve autorização para regularizar a sua situação com a mulher com quem vivia e de quem já tinha pelo menos três filhos legitimados. Cujo nome não era Maria Ribeiro, como referem todas as genealogias antigas, mas sim Leonor Ribeiro, como refere a carta de legitimação. Salvo a coincidência, demasiada, de existirem duas Ribeiro.
De uma primeira relação com Catarina Telles, D. Lopo teve ainda duas filhas. Esta Catarina («Catelina») terá nascido cerca de 1367-8. Poderia haver a tentação de a identificar como Menezes, portanto uma prima de D. Lopo, uma vez que este era filho da malograda D. Maria Telles de Menezes e sobrinho da rainha D.Leonor Telles. Mas não se vê como Catarina Telles podia ser Menezes, além do facto de se documentar sem Dona na legitimação da filha.
"Anais da Vila da Ericeira"
Jaime d'Oliveira Lobo e Silva - 1932

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