29 de Julho de 1482
João Regalia, morador na Ericeira, fez nesta data, doação ao Círio de São Pedro da mesma Vila, de uma herdade denominada "o Caramujo", nos arrabaldes da Vila.
O Círio de São Pedro era uma enorme vela, ou coluna, de cera com o peso de 4 a 5 arrobas, que se acendia na Igreja durante os actos de culto. A Câmara, que naqueles tempos era quem administrava as coisas da Igreja, costumava alugar aquele Círio para figurar em festividades de igrejas, noutras freguesias.
" Saibam os que este instrumento de dote virem; que no anno do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo, de mil e quatrocentos e oitenta e dois annos, aos vinte e nove dias do mez de Julho, em a villa da Eyriceira, em caza de Fernão de Sousa e das testemunhas que ao deante são escriptas, logo ahi pareceu João Regalia, morador em a dita villa, e disse que elle tinha uma herdade, onde chamam o Caramujo, termo da dita villa, que parte à travessia com João Afonso e com Diniz Dolenvença, e a aguião com João Pexes, e ao soom com herdade de São Pedro e com outras confrontações com que de direito deve de partir; a qual herdade o dito João Regalia disse que a deixava que fazia dela dote ao cirio de São Pedro da dita Villa; que o que rendesse em cada um anno, que se ponha em o dito cirio, e que os Juizes da dita Villa o façam aproveitar; a qual herdade logo renunciou de si e a deu para o dito cirio, deste dia para todo o sempre.
E mais disse o dito João Regalia que, posto que depois lhe venha outra vontade, que queira tirar a dita herdade ao dito cirio, que elle lh'a não possa tirar, e querendo-a tirar que pague ao dito cirio cinco mil reis brancos, de pena; e levada a dita pena ou não, que esta escritura seja sempre firme, neste dia e para todo o sempre. Em testemunho de verdade lhe mandou ser feita esta presente, que foi feita e outorgada em dita Villa, dia, mez e era susodita.
Testemunhas, Fernão de Sousa, Pedro Afonso, tecelão, Luiz Gonçalves, moradores em a dita Villa, e outros. Eu, Gonçalo de Sousa, que esta escrevi e aaqui meu signal fiz, que tal é (signal publico). Pagou com a nota vinte reis.
(Arquivo Eiriceirense, Maço 4 - Igreja Paroquial)
"Anais da Vila da Ericeira"
Jaime d'Oliveira Lobo e Silva - 1932