terça-feira, 23 de junho de 2009

Primórdios

Malha urbana da Vila até ao final do sé. XVIII

A Ericeira surgiu, como aglomerado urbano, núcleo central, pela parte norte do porto de pesca, não indo além, sensivelmente, onde hoje existe o largo Jaime Lobo e Silva, como o antigo topónimo Oitão nos deixa perceber.
Pela parte sul, não passava da capela de Santo António. Aliás, seria esta mesma capela que "limitou" durante vários séculos, o alastramento do tecido urbano mais para sul. Só iremos encontrar alguma urbanização no último quartel do séc. XVI, junto às arribas, imediatamente a seguir a esta capela. Ao contrário, pela parte norte, esse alastramento urbanístico deu-se com mais facilidade, principalmente, principalmente no que são hoje as ruas de Baixo e do Norte (lado poente).
No final do séc. XV, nestas ruas, a urbanização chegava praticamente onde existe hoje a travessa do Arrais (fonte pública da rua do Norte). Apesar de haver muitos menos fogos do que há hoje, rodeavam essas casas, grandes quintais onde os donos cultivavam os seus hortos e criavam os seus animais. Estas urbanizações caracterizavam-se por umas reduzidas áreas cobertas com entrada para as ruas principais (poente das ruas do Norte e de Baixo) e a restante área como quintal, até à rua paralela (caso da rua do Norte até à rua de Baixo e desta até às arribas). Mais tarde, nos finais do séc. XVI, começou a surgir alguma urbanização no que é hoje a rua de Baixo (lado nascente), construção alicerçada nos quintais dessas moradias, estendendo-se essa malha urbanística mais para norte, até próximo do rio do Calvo (hoje rua Florêncio Granate, poente sul). Foi durante o séc. XVII que se deu o resto da urbanização desta rua assim como da rua que hoje tem como topónimo Dr. Manuel de Arriaga (lado poente), até São Sebastião, o lado nascente desta rua encontrava-se ocupado por uma grande quinta até à estrada nacional 247.
Podiam-se encontrar mais alguns fogos a poente desta via, principalmente no que é hoje a rua do Carmo (casas estas pertencentes à quinta atrás referida e algumas outras na parte sul desta rua). Essas casas encontravam-se mais dispersas entre si, por lhes rodear, não quintais de hortos mas terras com outros cultivos, para os quais era necessário maior extensão de terreno. Todas estas terras de cultivo estendiam-se de norte a sul, no diâmetro que corresponde quase à Ericeira de hoje, desde o largo de São Sebastião até ao largo dos Navegantes (antiga Horta).
Algumas destas terras de cultivo mantiveram-se durante vários séculos nessa situação, até inícios do séc. XX. Mas foi durante todo o séc. XVIII, principalmente na última metade, que se deu o maior aumento urbanístico da Vila da Ericeira (só comparável nos dias de hoje).
No princípio do séc. XVIII existiam 250 fogos, a meio do mesmo século 353 fogos e no final, os fogos tinham aumentado para cerca de 600. Como podemos verificar, apenas num século houve um aumento de mais de 100% na urbanização da Ericeira. Esse desenvolvimento urbanístico deu-se, como facilmente se compreende, devido à explosão demográfica, que passou do princípio do século de 1020 para 1920 habitantes no final do séc. XVIII. Todo esse aumento populacional deu-se devido ao desenvolvimento do seu porto de mar, contribuindo para o efeito, a rasca, antigo barco veleiro da Ericeira, o qual necessitava de 18 a 20 homens para a sua manobra, transportando de carga máxima, 400 moios (1 moio, equivalente a 900 litros) de cereal.
O comércio estendia-se a toda a costa portuguesa, desde Viana do Castelo até Vila Real de Santo António, às ilhas dos Açores e Madeira, norte da Europa, havendo mesmo a versão de que uma destas rascas chegou a ir ao Brasil. Toda esta urbanização foi ocupar as áreas a sul e nascente da capela de Santo António, ou seja, as ruas de Santo António, da Misericórdia, de 5 de Outubro (quase como são hoje), da Fonte do Cabo, do Caldeira (mais de metade das actuais ruas e urbanizações com serventia de grandes quintais), largo do Jogo da Bola (tanto a nascente como a poente), Alves Crespo, do Ericeira e Mendes Leal (até um pouco mais de metade do que são hoje). Também se expandiram ou nasceram novas urbanizações a norte: lado nascente da rua do Norte, continuando para a travessa do Cotovelo, Cerrado do Poço, rua das Eiras, largo do Anadia, largo Figueiredo Cardoso e mais alguma urbanização na actual rua do Carmo, junto ao rio do Calvo, assim como na travessa do Pelourinho (muito dispersa) e muito pouca urbanização na rua e travessa do Espírito Santo.
Foi nos finais desse século e devido a todo este aumento urbanístico e, por consequência, dessas novas ruas e travessas, que surgiram os primeiros topónimos, essencialmente como uma necessidade de fácil identificação de todo esse emaranhado de ruas, nas quais as casas de comércio começaram a multiplicar-se, surgindo com uma nova importância no desenvolvimento da Ericeira principalmente até ao primeiro quartel do século seguinte. Essa identificação não tinha ainda um cariz oficial. Era a própria população que algumas vezes baptizava as ruas, dando-lhes nomes de pessoas mais conhecidas ou importantes que moravam nessas ruas, outras vezes eram identificadas pela sua localização ou pela existência de alguma capela, bem como de algum edifício importante ou único na Vila.
Foi assim que, nos finais do séc. XVIII apareceram os primeiros topónimos, alguns dos quais se mantiveram inalterados até hoje. Outros, através dos tempos, perderam o seu carisma e ainda outros, apesar de alterados pelas autoridades oficiais, mantiveram-se fortemente enraizados na memória colectiva do povo. Devemos também salientar que esses topónimos apenas eram reconhecidos e divulgados pelas pessoas, porquanto não existiam placas toponímicas para as assinalar. essas placas só surgiram durante a segunda metade do século seguinte (XIX), bem como os números de polícia.
Apesar de algumas ruas já existirem com meia dúzia de casas, não falaremos delas por enquanto. Apenas daquelas que temos conhecimento que já tinham alguma expressão urbanística, para podermos considerá-la rua com o seu respectivo nome.

Leandro Miguel dos Santos
"Toponímia Histórica da Vila da Ericeira"

No final do séc. XVIII encontravam-se nesta situação as ruas com os respectivos topónimos que serão descritas nos próximos tópicos.

domingo, 21 de junho de 2009

Ericeirense campeão

Ericeirense conquista a super-taça

11 de Junho de 2009 - quatro dias após ter ganho a taça da Associação de futebol de Lisboa, o Ericeirense conquista a super-taça.
"O Cantinho do Jagoz" congratula-se com mais esta victória da nossa terra e deseja a todos, vontade de ferro para conquistar muitas mais.
Vamos mostrar de que fibra somos feitos.

Ver notícia em http://www.gduericeirense.com/pages/main.php?id=120

Em frente Jagozes!

1495

14 de Abril de 1495

A Câmara de Lisboa convida a da Ericeira a concorrer para as despesas resultantes da importação de trigo.
(Durante muitos anos a Câmara da Ericeira concorreu para as referidas despesas, o que dava direito aos moradores da Vila a poderem abastecer-se em Lisboa de todo o trigo de que necessitassem.)

"Honrados Juízes e Oficiais do Julgado da Ericeira.
Os Vereadores, Procurador e Procuradores dos Mesteres da mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa, vos fazemos saber que, por mingua do pão e esterilidade dele que houve em estes reinos e especialmente em estas nossas comarcas, - esta cidade enviou pedir a El Rei nosso Senhor que lhe fizesse mercê de toda dizima a do pão que de fora parte, por mar, viesse a esta cidade; e sua Alteza, por nos fazer mercê, o concedeu por este anno presente; a alem disto, por mais franqueza, ordenamos que a dita cidade desse descarga e logea a todos aqueles que o dito pão trouxessem... Escrevemos a França e a Bretanha e a Inglaterra e a outras partes donde sentimos que o dito pão podia haver, notificando-lhes as fraquezas e liberdades que lhe eram feitas e receberiam. Por a qual razão Deus seja louvado, visto aquela soma e abastança de trigo que sabeis. E porque a despeza é tão grande que se com o dito pão faz, que as rendas desta cidade a não podem sofrer, vos rogamos que vos praza nos ajudardes às ditas despesas, e entre vós fazerdes uma repartição de 300 reaes, que honestamente nos pareceu que haveis de pagar para as ditas despezas, pois a vós tão comum é o proveito e abastança como a nós mesmos. Do que nisto esperaes fazer, vos rogamos que nolo notifiqueis por vossa carta, logo por este portador, para disso sermos certos e sabermos o que havemos de fazer.
Escrita em Lisboa a 14 dias de Abril de 1495. - (assignaturas)."

(Arquivo Ericeirence, Maço I - Documentos antigos)

"Anais da Vila da Ericeira"
Jaime d'Oliveira Lobo e Silva - 1932

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Abadia da Ericeira

Para nós, Jagozes, a Abadia significava na nossa juventude apenas duas coisas: Dia da Espiga e batalhas épicas.
Era na Abadia que nos empanturrávamos de arroz doce e filhoses nesse dia de comemoração pagã.
Era na Abadia que travávamos as maiores batalhas medievais na pele de miúdos guerreiros, cavalgando imaginários puros-sangue lusitanos e árabes, brandindo espadas e arcos de flechas feitas de caniças da ribeira.
Mas o que vos quero contar, embora de forma resumida, é a origem deste lugar e do seu nome: Abadia.
Segundo documentação de 1368, no reinado de D. Fernando, esta Abadia fazia parte de um extenso domínio a que chamavam Quinta de Ilhas. Supõe-se que tenha sido dividida em duas partes: uma pertencendo à coroa que a doou a João Gonçalves - o cavaleiro, a partir de quem, em 27 de Março de 1487, D. João II faz doação aos frades do Convento de S. Domingos de Benfica. Outra pertencendo ao Duque de Bragança Dom Jaime, continuando depois com os Condes da Ericeira e Louriçal, e depois com os Condes de Lumiares, os seus senhores directos até 6 de Abril de 1881, altura em que a vendem a Manuel da Silva Gamanho, proprietário e residente em Fonte Boa da Brincosa. Os registos paroquiais de Santo Isidoro revelam que o actual nome de Paço d'Ilhas remonta ao início do século XVII.
A designação de Paço deverá estar relacionada com um antigo Paço cujas ruínas ainda persistem e onde se podem ver cantarias de estilo manuelino.
Junto às ruínas do Paço existe uma pequena capela dedicada a S. Sebastião.
Tudo indica que actualmente os topónimos "Abadia", "Pinhal dos Frades", "Paço d'Ilhas" e praia de "Ribeira d'Ilhas" façam parte dos antigos terrenos da Quinta de Ilhas, termo do antigo Concelho da Ericeira.

João Bonifácio

1487

27 de Março de 1487

El Rei Dom João II fez doação aos frades do Convento de São Domingos de Benfica, da sua Quinta de Ilhas, termo da Ericeira, a qual houvera de João Gonçalves, o cavaleiro.

Poderá estar aqui a solução do enigma dos topónimos "Abadia", "Pinhal dos Frades" e "Paço d'Ilhas" que fariam parte da Quinta de Ilhas, termo do antigo Concelho da Ericeira. (J.B.)
"Anais da Vila da Ericeira"
Jaime d'Oliveira Lobo e Silva - 1932