terça-feira, 14 de julho de 2009

S. António vandalizado


«No dia 5 de Outubro de 1910, por volta das 16:00, partia para o exílio a família Real Portuguesa, na sequência da Revolução que tinha eclodido na manhã desse dia, em Lisboa. Era a implantação da Republica, e fechava-se assim, um vasto capítulo da História de Portugal, que durara quase 800 anos. A areia da praia dos pescadores da Ericeira, foi o ultimo pedaço de terra Lusitana pisada por um Rei de Portugal, e foram pescadores da terra, quem num acto carregado de simbolismo, transportaram o monarca e a família ao iate que os conduziria ao exílio. Do alto da falésia das Ribas, os jagozes assistiram a este episódio da História de Portugal, entre o atónito e o constrangido, todavia com o maior respeito.
A República era para a grande generalidade do povo Português – principalmente para quem residia fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto – uma total desconhecida. Rapidamente a ala mais radical do Partido Republicano Português (PRP), tomou as rédeas da governação, e começou-se desde logo a perceber que a «ditadura Democrática», de Afonso Costa e Cª era o pior dos Regimes. O povo Português – de enraizadas tradições católicas – assistiu, na sequência da entrada em vigor da Lei de separação do Estado e da Igreja, a ferozes perseguições ao clero, tendo mesmo alcunhado Afonso Costa de «mata-frades».
É neste cenário, que um dia na Ericeira, desapareceram os santos da Capela de Santo António, talvez o local de culto mais emblemático da Vila. Horas depois, começaram a ser avistados junto às rochas laterais à praia dos pescadores (que dividiam esta da praia do Algodio), e a virem dar ao areal da própria praia. Os Ericeirenses constataram, num misto de espanto e tristeza, que os santos haviam sido tirados da Igreja, não por vulgares ladrões, mas por jacobinos, lacaios de Afonso Costa, que quiseram exibir o seu anti-clericalismo desta forma espampanante.
Em função deste episódio, a generalidade do povo da Ericeira – católico e temente a Deus – logo anteviu desgraças. Segundo pessoas que acompanharam os acontecimentos à época, nunca mais o peixe abundou na costa da Ericeira como antes, e a importância do porto de mar foi decaindo progressivamente, no contexto nacional. Mito ou não, se olharmos para a realidade actual, não podemos deixar de ficar a pensar, que a importância da Ericeira enquanto porto de pesca, veio efectivamente em queda livre daí para cá. Nem todos terão conhecimento, mas o porto da Ericeira, era nesse tempo, bem mais importante do que Peniche, Cascais ou Figueira da Foz. Hoje é aquilo que sabemos.»
(Contado pelo meu avô Júlio «catanixa», nascido em 1906 e falecido em 1991.)
José Henriques

Sem comentários: