segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Malha urbana até ao séc. XVIII (1)

Rua S. Sebastião ou Rua do Forte

Correspondia esta rua ao actual largo Domingos Fernandes, prolongando-se para a rua de Baixo. Primeiramente a rua chamou-se S. Sebastião, antes da construção do forte Nossa Senhora da Natividade. O topónimo forte deriva do facto da proximidade desta fortaleza em relação a toda esta área. Este forte foi construído no séc. XVII (1670), na regência de D. Pedro II.
Encontramos alguma documentação sobre o denominado forte de Nossa Senhora da Natividade. Esta fortaleza foi construída para defesa do porto. Naqueles tempos era habitual os corsários fazerem as suas incursões e assaltos em toda a costa portuguesa, também serviu para a consolidação da Restauração Nacional, em relação aos espanhóis, guerra que durou imensos anos, desde a revolta dos conjurados em 1 de Dezembro de 1640 até 1668 quando foi assinado o tratado com a Espanha. Durante essa época, construíram-se vários fortes na costa portuguesa, como por exemplo; o forte de S. Pedro de Milreu e o de Santa Susana (conhecido como de S. Lourenço).
O forte foi guarnecido com várias peças de artilharia, algumas delas em bronze, que mais tarde (1880) foram transferidas para Lisboa, sendo as restantes, as de ferro, enterradas nas ruas da Ericeira, nomeadamente junto ao forte. Há poucos anos, quando se fez o novo manilhamento do saneamento básico, estas peças de ferro foram encontradas e colocadas nas Furnas, pela Junta de Freguesia, apontadas para o mar.
Já antes da construção deste forte, em 1646, o capitão Lucas Ferreira de Macedo, por ordem do rei, fez entrega à Câmara de um quintal de pólvora e de 40 balas, tudo para servir duas peças de artilharia que o rei tinha instalado nesta Vila. Este material foi logo entregue ao capitão Luís de Brito natural e morador na Vila, para a sua defesa e dos navios que a ela se acolhem*.
Antes da construção do forte, como podemos comprovar, a Vila da Ericeira já era uma praça de armas marítima desde os tempos mais antigos. Na década dos anos setenta do século XX, quando se deu um grande desassoreamento na praia dos Pescadores (dentro de água, na antiga praia), foram encontradas várias destas balas. Algumas ainda estão na posse de moradores da Ericeira, uma encontra-se depositada no Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira.
Ainda relacionado com este forte: "26 de Janeiro de 1680, João de Sousa Noronha, como Ouvidor da Vila e Governador do forte comunica à Câmara que o Conde D. Fernando de Menezes pretende obter do Príncipe Regente um Alvará que escuse os moradores do serviço real, se eles se comprometerem a fazer a guarnição do forte. O povo aceitou a proposta."**
(continua)
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* - Anais da Vila da Ericeira, Jaime Lobo e Silva.
** - Extraído do mesmo livro. Por essa época, tanto o ouvidor (juiz) como o governador do forte eram nomeados nos seus postos pelo donatário da Ericeira, ou seja, o conde da Ericeira, sendo ele que prestava contas dos seus ofícios.

Leandro Miguel dos Santos
"Toponímia Histórica da Vila da Ericeira"
(fotos de João B.)

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