terça-feira, 11 de agosto de 2009

Malha urbana até ao séc. XVIII (3)

Largo do Oitão

Correspondia este pequeno largo ao actual topónimo Jaime d'Oliveira Lobo e Silva. Como o topónimo deixa compreender (significa parte lateral de um edifício), esta área teria sido durante bastante tempo, uma parte dos limites da Ericeira. Através de várias pesquisas que temos feito sobre a urbanização antiga da Ericeira, chegámos à conclusão que tanto para nascente como principalmente para norte deste largo, não houve muita urbanização até ao séc. XVIII.
Este facto não é muito explicável, se bem que Jaime Lobo nos tenha deixado escrito o seguinte motivo histórico: "Nos princípios do séc. XVIII havia na Ericeira junto ao largo do Oitão um chão salgado do qual se dizia, naquele tempo, que ali estivera construída uma casa que servira de residência a um rei que fora preso e que aquele chão fora salgado para nunca mais ali se poder edificar. E, pedindo alguns moradores licença à Câmara para ali edificarem casas, houve dúvidas sobre a concessão de tais licenças. Os requerentes recorreram ao conde donatário que mandou a Câmara que o informasse acerca do assunto e se havia algum impedimento.
A Câmara informou que, dos seus arquivos nada constava, pelo que foram concedidas as licenças.
Também se dizia que naquele chão salgado, estivera construída uma casa que servira de moradia aos capitães que vieram com o exército que a Inglaterra mandara em auxílio de D. António Prior do Crato. Mas um dos requerentes informou o conde donatário de que o exército inglês não havia desembarcado na Ericeira mas sim em Peniche, onde seguira para Torres Vedras e dali para Lisboa, sem ter passado pelas povoações da beira-mar.
Apesar do exército inglês não ter passado pela Ericeira, isso não invalida a lenda do tal rei que fora preso. Esta lenda deveria ter existido fortemente enraizada no povo. Todas as lendas têm alguma verdade, apesar de, lendas que são, não poderem ser comprovadas.
Todos nós sabemos que o D. António Prior do Crato, andou vários meses fugido, clandestino em Portugal procurado pelos espanhóis antes de poder fugir para o estrangeiro através do porto de Setúbal(1).
É muito possível que D. António se tenha refugiado na Ericeira, até porque era ele o donatário da Vila nessa época, por herança de seu pai o infante D. Luís. O que não é compreensível é que a história contada na Ericeira diga que o rei fora preso. Ora D. António não chegou a ser preso, apesar dos espanhóis e de alguns traidores portugueses terem tentado prendê-lo, não o conseguiram, pois ainda houve um punhado de patriotas que o protegeram e salvaram desse trágico destino. Se na realidade D. António passou pela Ericeira e os espanhóis souberam, como tal, destruíram e arrasaram a casa ou casas em que esteve escondido, salgando em seguida o chão. Com o tempo a lenda foi-se adulterando de escondido para preso.
(continua)
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(1) - Segundo alguns consagrados historiadores, embarcou em Setúbal. Outros dizem em Viana do Castelo.

Leandro Miguel dos Santos
"Toponímia Histórica da Vila da Ericeira"

(foto de João B.)

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