quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Limo na costa


Quando era mais novo, para além de trabalhar no verão, na praia do Sul, ajudava o meu avô Cavalas a cultivar um pedaço de terra que ele trazia alugada em Fonte Boa da Brincosa, onde residia há algum tempo.
Em determinadas épocas do ano, após as tempestades no mar, dava à costa grande quantidade de algas a que chamamos limo e que se ia acumulando no areal. Este limo era aproveitado para fertilizar a terra proporcionando excelentes colheitas.
O meu avô e eu vinhamos buscá-lo às lages (pois era onde se encontrava mais limpo) e carregávamo-lo às costas, falésia acima dentro de cestos de vime. Depois deitávamo-lo dentro de cobachos (buracos em forma de quadrado abertos na terra e adjacentes uns aos outros onde se plantavam batateiras) onde iria apodrecer ao sol. Toda a gente do campo colhia este limo da costa limpando-a em pouco tempo.
Mas o que eu vos queria contar, tem a ver com algo que, tendo uma história paralela a esta, aparecia na nossa costa com frequência, muitas vezes em plena época balnear; o alcatrão.
Os petroleiros que descarregavam a nafta no terminal de Sines, quando regressavam vazios para norte costumavam efectuar a lavagem dos tanques em alto mar, provocando pequenas marés de poluição que chegavam às praias, muitas das vezes durante a noite. De manhã apareciam milhares de bolinhas de alcatrão depositadas na areia que tinhamos de limpar antes da chegada dos primeiros banhistas. Tarefa chata que repetíamos todos os dias, de segunda a sábado. Ao domingo, acontecia um fenómeno protagonizado por um outro tipo de banhista; o turista de domingo.
Geralmente proveniente do campo, muitas das vezes vendo o mar pela primeira vez, invadia o areal, esticava toalhas e mantas, rebolava, passeava, esfregava-se literalmente sobre o dito alcatrão. O resultado era a praia ficar limpa sem qualquer esforço da nossa parte.
Era mau para a reputação, mas bom para a poluição.
João Bonifácio

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